Musealização da Central Hidroelétrica do Caldeirão – Torres Novas // Recolha de memórias e testemunhos dos trabalhadores.
Procurando obter os testemunhos dos trabalhadores, e conhecer melhor as dinâmicas laborais da central, fomos ao encontro do Sr. Augusto Manuel Carvalho do Canto, a quem agradecemos a disponibilidade para colaborar neste processo.
2ª parte
«(…) Naquela época, saia de Torres Novas a linha para Riachos, a linha “do Norte” que era a de Valhelhas, e outra Lapas, Ribeiras e Zibreira; e, portanto, quando havia uma avaria toda a população da linha era afetada, e ficava às escuras. Os disjuntores de média tensão para alimentar a corrente nas linhas, estavam aqui em Torres Novas. Se fossem abaixo toda a linha ficava sem energia. Na minha equipa, por exemplo, éramos: eu, o Sá, o Abílio Lopes o José Ferro, o Carolino, o Fernando José, o Nobre, e o encarregado Sr. João Simões. Naquele tempo, íamos para uma aldeia e se fosse para fazer uma baixada particular era uma operação que podia demorar 3 ou 4 horas, meio-dia de trabalho: Tinha que haver um postalete, pregar os preguinhos passar o cabo, fazer a montagem toda, levava-se o saco com as lâmpadas, e claro, quando íamos para uma aldeia vínhamos de lá só ao fim do dia, aproveitávamos e dávamos uma vistoria à iluminação pública, para realizar certas operações que eram sempre necessárias, por exemplo, substituir um isolador partido que houvesse na rede; cortar um ramo que se metia nas linhas, ver o que era preciso. Em termos de segurança no trabalho, não existia sequer esse conceito. O único material que tínhamos era um cinto para nos prender ao poste para podermos trabalhar… Em termos de rede, a produção do Almonda era de baixa tensão e só dava para a avenida uma linha direta ao hospital, um circuito na zona do Outeiro do Fogo e pouco mais. Não havia forma de alimentar mais circuitos sem a energia do Alto Alentejo. Ainda colaborei na eletrificação das aldeias, andei no Nicho, Casal Valentão, Rexaldia, Pena e Casal da Pena. Nessa altura, lembro-me de vir a Torres Novas, ao Caldeirão, o engº da federação energética dos municípios do Ribatejo que era o engº António Augusto Valente de Matos que trabalhava em articulação com os responsáveis José Alves e Manuel Piranga.»
Augusto do Canto, 64 anos
Eletricista da Central
Ribeira Ruiva, Torres Novas

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