Musealização da Central Hidroelétrica do Caldeirão – Torres Novas // Recolha de memórias

e testemunhos dos trabalhadores.

Procurando obter os testemunhos dos trabalhadores, e conhecer melhor as dinâmicas laborais da central, apresentamos a segunda e última parte da entrevista do Sr. César Sá, a quem agradecemos a disponibilidade para colaborar neste processo.

 2ª parte

«(…) Depois do 25 de abril de 1974 formaram-se as 4 equipas de eletricistas. Tínhamos uma na linha de Riachos o responsável que era o Sr. Oliveira com o seu pessoal; na linha do Norte o Sr. José da Cruz (Fungalvaz e Carvalhal da Aroeira) e o Sr. João Simões que era a brigada responsável pela linha de Torres Novas até Parceiros, Casais Martanes até Alcorochel. Eu apanhei a eletrificação de Casais Martanes em simultâneo com a Chancelaria, uma localidade perto da Barroca e depois Casal Valentão e Vale da Serra. Fiz sempre o meu percurso na parte da energia elétrica e eletrificação. Em termos de camaradagem a empresa do Almonda era ótima porque podíamos confiar uns nos outros, os colegas não nos deixavam ficar mal. Tivemos sempre bom ambiente de trabalho entre todos. Ao passar para a EDP senti grandes transformações para melhor em termos de formação, direitos e condições de trabalho. Cheguei a fazer o curso de geradores com outro colega de Tomar. Mas, ao encerrar os serviços em Torres Novas, tivemos de escolher para onde queríamos ser colocados, uns foram para Santarém, outros Tomar e eu fui para Abrantes, onde não me adaptei muito bem à equipa. Mais tarde, com a mudança do engº responsável, reformularam a equipa, e eu, os colegas Carlos Cebola, José Carolino e Estevão, decidimos ir para Tomar. As equipas são muito importantes na nossa vida profissional, e no percurso das organizações. Naquele tempo, e voltando à empresa do Almonda, não tínhamos nem material nem condições de segurança. Por exemplo, em termos da ferramenta, cada um tinha de adquirir a sua, e para reparar uma avaria numa aldeia, tínhamos de transportar a escada de madeira ao ombro, e eu cheguei a sangrar entre as pernas e nas mãos. A nível de produção, lembro-me que trabalhavam as duas turbinas a de 80CVA e outra de 100CVA, embora essa grande trabalhasse muito menos, porque precisava de muita água. Quanto ao motor com a roda dentada grande, esse, não era qualquer um que o punha a trabalhar… Tinha de se conhecer a máquina, e requeria pelo menos 3 homens. Era preciso uma alavanca e o motor trifásico para carregar a botija de ar. Quando começava a ganhar balanço, todo o edifício estremecia… por acaso assisti duas vezes ao arranque dessa máquina, ficou-me na memória. Quem manobrava esse motor grande era o Sr Coelho e o Sr Brandão. É um equipamento muito antigo… faz parte da história da central e da história industrial de Torres Novas.»

 

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César Sá

Eletricista da Central

Torres Novas, 62 anos

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