Musealização da Central Hidroelétrica do Caldeirão – Torres Novas // Recolha de memórias e testemunhos dos trabalhadores.
Procurando obter os testemunhos dos trabalhadores, e conhecer melhor as dinâmicas laborais da central, continuamos a apresentar a entrevista do Sr. Fernando Magalhães, a quem agradecemos a disponibilidade para colaborar neste processo.
2ª parte:
«(…) Certa vez, o Sr. José Maria Tavares mandou-me ir buscar a folha de ordenados e eu vinha a descer a escada a olhar … e ele perguntou-me: “Então ó Sr Fernando? Passa-se alguma coisa? E eu: - Ó Sr. Zé Maria é aqui o valor do meu ordenado… não estou a entender. E ele mandou-me ir lá acima falar com o Sr. Mourão e que ele me explicaria. O sucedido é que eu tinha passado a efetivo e deixava de estar apenas na escala das folgas. Se eu estava a fazer o mesmo serviço dos outros, o patrão lá entendeu que eu deveria ter o mesmo ordenado que os outros e deu-me o aumento… Mas eu era o mais o mais novo, e nas escalas de serviço, posso dizer que em 15 anos naquele serviço, nunca passei um Natal com a família… Mas enfim… tudo isso passou… Depois, fomos sendo transferidos para a EDP, as turbinas pararam, e terminou a produção no Almonda. Ainda ficámos mais uns anos, eu fui trabalhar para a rede elétrica, fiquei na brigada do Sr. Artur Ferreira, certa vez, estava a fazer uma afinação num poste, apanhei com uma descarga de uma trovoada, o raio passou por mim entrou no fato de oleado e saiu no botim. Só havia dois para-raios na rede, um numa pecuária na Chancelaria e outro aqui em Torres Novas. Depois com a passagem à EDP toda a rede foi sendo melhorada, e ainda bem.
Mas as pessoas não tinham noção… e quando faltava a luz ligavam para lá! – “Seus malandros! E isto e aquilo… liguem a luz! Mesmo à hora de ver a bola!!…” Enfim as pessoas estavam convencidas que éramos nós que interferíamos… e não faziam ideia.
No tempo do patrão José Maria a nível da parte de instalação, a grande melhoria foi a compra de uma máquina retroescavadora. Antigamente transportavam-se os postes num jipe com um atrelado onde se apoiava o pé do poste até ao jipe. Depois com a compra da máquina tudo ficou mais facilitado, nem tinha comparação. Era algo que os serventes e o pessoal desse sector reivindicava. Também fazia falta um compressor, mas depois passou-se para a EDP e já não se concretizou. Na secção dos eletricistas fiz parte da equipa do Sr. João Simões e do Sr. Artur Ferreira. Foi uma vivência… passou-se muita coisa. O nosso escape psicológico eram os nossos convívios, juntávamo-nos, por vezes também estavam presentes o patrão e a família, a D. Helena e os filhos, e nós a nível do pessoal fazíamos sempre almoços e jantares e torneios desportivos. Principalmente não falhávamos o 1º de maio. Quando vemos as fotografias desses tempos ficam as saudades… [agradecemos a cedência ao Núcleo Museológico da Central de um vasto espólio de fotografias para digitalização].»
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Fernando Magalhães
Maquinista da Central
Torres Novas, 71 anos