Musealização da Central Hidroelétrica do Caldeirão – Torres Novas //Recolha de memórias e testemunhos dos trabalhadores
Continuamos com a recolha de mais testemunhos de trabalhadores para conhecermos melhor o funcionamento da central e as dinâmicas de trabalho. Apresentamos o testemunho do Sr. Carlos Maltez do piquete de eletricistas da Central:
«Em 10 de Dezembro de 1972 entrei como aprendiz, assim como outros colegas e mantive-me até final da empresa. Eramos todos uns garotos, eu tinha pouco mais 15 anos. No meu percurso todo, fiz o meu serviço praticamente sempre em Riachos, de onde sou natural. Só mudei para a zona da cidade já passados uns 12 anos devido a uma necessidade de ir fazer um piquete de turnos. Mas quando entrei, calhou-me ir para o Vale da Serra abrir buracos. Éramos todos uns miúdos novos agarrados todo o dia a um ferro que pesava mais que nós, e foi um bocado difícil, fiquei com as mãos em sangue, e ainda pior na serra que é só pedra; até quis deixar este trabalho, mas a minha mãe não me deixou desistir e tudo passou.
Na época, a organização do serviço compreendia a divisão do concelho por zonas. Eu estive sempre afeto à zona sul que era a zona do PT de Riachos. No nosso serviço, além de sermos aprendizes, ajudávamos os mestres a fazer instalações. Os ramais aéreos eram a fio de cobre com isoladores de porcelana. No fundo, estávamos a falar de 3 zonas. A zona sul (Riachos e Meia Via), a zona norte (do Carvalhal tudo até Fungalvaz e Torres Novas - cidade, Ribeira, Zibreira, Alcorochel, Parceiros de Igreja e Brogueira). Devíamos ser no total uns 20 eletricistas, podendo ser mais em certas alturas.
Em meados dos anos 1980, algo que já vinha a ser negociado desde o 25 de abril, deu-se a passagem para a EDP. Para todos nós foi muito bom, ficámos com outras condições de segurança e trabalho. Não havia comparação em termos de vencimentos, regalias, direitos dados aos trabalhadores. Houve sempre entre todos uma boa camaradagem.
Comemorávamos sempre o 1º de Maio. Havia uma comissão das comemorações do 1º de maio e ninguém se podia negar. Eu gostava muito do 1º de maio, fiz parte da comissão e fui delegado sindical. Havia um clube desportivo (depois passou a clube de pessoal da EDP), chegámos a fazer várias festas (…).»
Carlos Maltez Estevão, eletricista da Central
69 anos, Riachos – Torres Novas