Autores torrejanos VIII – António Chora Barroso

António Chora Barroso foi professor e pedagogo, muito dedicado a Riachos, onde nasceu, em 10 de abril de 1916. Foi autor de textos sobre os costumes e a história da terra. Escreveu igualmente poemas inspirados na sua terra natal. Enquanto docente, lecionou em Riachos, Golegã e Azambuja, dirigiu a Escola Manuel da Maia, em Lisboa, e era professor na Escola Técnica Elementar Eugénio dos Santos quando se reformou. Chegou a ser colaborador da revista «Riachos» e editor do suplemento literário de «O Almonda». Publicou Fins da Educação, em 1952, Riachos, Terra do Ribatejo, em 1954, Apontamentos Riachenses, em 1966 e Riachos. História, Costumes, Biografias, em 1989. Faleceu em Lisboa, em 18 de junho de 1978

 Ode aos campos de Valada

Dedicada «ao riachense ilustre, amigo de sempre, Eng. Carlos Antunes Barroso

 

Valada não é campo: é jardim

onde impera o fogo da saudade.

É céu, é inferno... esperança sem fim

no mundo desesperado da Verdade.

 

Reino do verde das searas e do azul do céu.

Dormitório dos pássaros ciosos de amor.

Silêncio mortal que o Destino ofereceu

às almas imoladas ao supremo prazer da dor.

 

Cantigas!... Rouxinóis, melros e cigarras

cantam sonatas em piano moderato...

Orgia do som em quiméricas guitarras

que emprestam à paisagem sonoro retrato.

 

Em duelos de morte tilintam enxadas reluzentes.

Em tardes abrasadas de sóis ardentes

gemem nos abismos do rio a azenha e a nora.

A água salta gárrula, louca e atrevida

logo, tarde, cedo, ontem, hoje e agora,

regando as plantas, os corpos e as almas,

assegurando maior dose de vida à vida,

embalando a fúnebre solidão das horas calmas.

 

Oliveira da sombra peregrina

velha de séculos com cara de menina...

 

Choupo dos galanteios amorosos

que galanteias meus olhos tristes e saudosos...

 

Humilde freixo!... Tosco, bisonho e rude,

de espessa folhagem, plantado à beira do açude.

 

Bétula nervosa, ondulante, feminina, sensual,

vaidade pérfida em corpo de cristal...

 

Papoilas, lírios e trigais... Que sei eu?

a sorrirem à mocidade que fui e já não sou...

e não serei jamais...

 

Valada não é campo.

É pomar de sonhos e segredos

afogados em ternas ilusões.

É poema da juventude que não volta

vertigem que em nós se solta

e regressa, brandamente, a nossos corações.

 

Lisboa, Maio de 65

(In jornal O Almonda)

 

Referências:

BICHO, Joaquim Rodrigues, «Colectânea de textos de autores torrejanos (séculos XV-XX)» [introdução e notas de Margarida Moleiro]. Torres Novas: Município de Torres Novas, 2006, pp. 495-506

 

 

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