Festividades da Páscoa e da Semana Santa em Torres Novas – I parte
A Semana Santa é, no calendário cristão, o período que decorre entre o Domingo de Ramos e o sábado antes da Páscoa, e que evoca a paixão e morte de Cristo. Joaquim Rodrigues Bicho, em «A Igreja em Torres Novas no século XX» explica com pormenor como eram as celebrações desta importante festa da Igreja em Torres Novas que, durante muitos anos, se realizaram na Igreja da Misericórdia (as cerimónias estavam a cargo dos irmãos da Misericórdia), onde se encontrava a imagem do Senhor Morto, fazendo-se então a procissão do Enterro. Por exemplo, para 1921, o autor descreve o conjunto das cerimónias que incluíam a bênção dos ramos, várias missas solenes (Domingo de Ramos, quinta-feira santa e Domingo de Páscoa), lava-pés, sermão do Mandato, matinas e laudes (quinta-feira santa); Paixão, Adoração da Cruz, Missa dos Pressantificados e sermão da Paixão, matinas, laudes e sermão da Soledade (sexta-feira), bênção do Lume e da água batismal e missa de Aleluia (sábado de Aleluia), procissão eucarística no templo (Domingo de Páscoa).
Em 1931, o programa terá sido reduzido com a supressão das matinas e laudes e do sermão da Soledade.
Depois de 1935 e até 1939, as cerimónias passaram a realizar-se nas igrejas paroquiais, regressando em 1940 à Misericórdia. Refere ainda Joaquim Bicho a realização da procissão do Senhor Morto nesse mesmo ano. Em 1945, as cerimónias são na Igreja de Santiago, com realização da Procissão do Senhor Jesus dos Lavradores. Em 1942 ou 43, acrescenta, terá ocorrido uma das primeiras procissões dos Passos do ciclo.
Várias procissões ocorriam nesta altura: a do Enterro ou do Senhor Morto, na sexta-feira Santa, a procissão dos Ramos, no Domingo de Ramos (que não saía do átrio da Igreja), a do Santíssimo Sacramento, no Domingo de Páscoa, a do Corpo de Deus, restabelecida depois de 1956, a procissão das Velas ou a do Senhor Jesus dos Lavradores.
Por todo o concelho se celebrava a Páscoa e a Semana Santa. Em Carvalhal da Aroeira, refere Luís Correia de Sousa, realizava-se a procissão do Domingo de Ramos. Os participantes transportam ramos de oliveira previamente benzidos e que depois são levados para o interior da igreja.
Hoje, as celebrações são “menos esplendorosas e mais breves”, mas o que fica na memória desses tempos, e que chega até nós como registo iconográfico da dimensão da devoção e participação das pessoas nas várias manifestações do culto, são sobretudo as procissões, como a dos Passos, que a imagem aqui publicada tão bem ilustra.
Referências:
Bicho, Joaquim Rodrigues, A Igreja em Torres Novas no século XX. Torres Novas: Município de Torres Novas, 2008, pp. 15-21
Bicho, Joaquim Rodrigues, Torres Novas Memória e Costumes (1936-1959). Torres Novas: Município de Torres Novas, 2006, pp. 221-226
Sousa, Luís Correia de, Carvalhal da Aroeira. A memória de um povo. Torres Novas, Município de Torres Novas, 2012, pp. 241-245
Fotografia: Procissão do Senhor dos Passos, 1ª metade do século XX, Arquivo Municipal de Torres Novas