Musealização da Central Hidroelétrica do Caldeirão – Torres Novas //

Recolha de memórias e testemunhos dos trabalhadores

Continuamos a apresentar os testemunhos dos trabalhadores e operários da Central Hidroelétrica do Caldeirão. Felizmente, neste processo de recolha, pudemos ainda contar com o testemunho de um dos maquinistas da Central, o Sr. António Nunes Coelho:


“Entrei para a Central no dia 10 de abril de 1950 com 19 anos, e o meu último dia de trabalho foi o dia 30 de setembro de 1990. Comecei como aprendiz, depois passei a operador de quadro e terminei na categoria profissional de maquinista. Lembro-me bem dos primeiros tempos… a dificuldade para aprender a trabalhar com tantos voltímetros, amperímetros, fichas, manípulos e tantos equipamentos… Depois, com o passar do tempo, e com a prática, fui aprendendo. Como operador de quadro, passei a trabalhar na sala das máquinas. Trabalhávamos sempre por turnos, com horário alternado de oito em oito dias. No turno da noite estava sempre só um de nós de vigilância às máquinas. Ao princípio custou-me, porque a malta mais velha deixou-me lá sozinho, mas tive de aprender. Durante os Invernos era muito duro. Por vezes aconteciam situações mais complicadas como cheias, entradas abruptas de água e imprevistos. Lembro-me de uma vez queimar uma mão no quadro. Tivemos de parar as máquinas todas e desligar a corrente para se limpar o quadro e substituir peças. Foi uma enorme pressão, todos foram chamados, mas mesmo assim ficámos sem luz em Torres Novas uma hora ou duas.

Numa outra situação, queimou-se o Zé Alves que era o encarregado geral. Era preciso ligar a corrente para a indústria, e essas manobras na época eram feitas “à mão”, o Zé Alves disse ao Miguel para ir desligar a corrente na alta tensão (30.000 volts) e ficou à espera, mas antecipou-se e manobrou fora de tempo. Deu-se uma descarga que parecia fogo de artifício… Nesse tempo havia pouca segurança e pouca proteção. Só depois, quando passámos para a EDP, é que veio esse tipo de material: capacetes, auriculares para os ouvidos, botas isolantes e todo o equipamento. Na sala das máquinas trabalhavam o Trapeiro, o Manuel Gonçalves e o Zé Alves, depois entrei eu, o Miguel Gaspar e o Lita. Todos os dias tínhamos de ir ao torreão fazer a contagem da Hidro. Essa torre tinha dois depósitos de água, com um motor que puxava água da vala. Lá em baixo, na central, tínhamos um telefone para atender a todo o momento em caso de problemas e avarias ou falha de corrente. Na entrada, estavam dois depósitos de gasóleo, de 200 litros cada, e uma botija de ar comprimido com duas torneiras, que se abriam para fazer arrancar o motor; quando não pegava, tinha de ser com gasóleo; o motor tinha duas bombas de óleo para refrescar com pingo em vários sítios. Essas bombas estão nas laterais do motor, e são alimentadas por um pequeno depósito de vidro, com óleo. O mecanismo fazia com que o óleo subisse e fizesse trabalhar a transmissão. Tínhamos de manter as máquinas impecáveis… A limpeza e a manutenção eram feitas várias vezes ao dia.
Quando penso no ambiente de trabalho, era bom, convivíamos bem… chegámos a fazer almoços no 1º de maio e jogos de futebol, mesmo antes do 25 de abril. Todos eramos sindicalizados, mas não nos queixávamos. (…)”

António Coelho, Maquinista da Central
Torres Novas, Maio de 2019

“O pai trabalhava de noite, depois saía e às vezes ainda ia fazer os trabalhos das contagens e voltava a trabalhar à noite. E durante anos não teve folgas... nem ganhava o dia por estar a trabalhar (…)”.
Fernando Coelho (filho)
Torres Novas, Maio de 2019

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